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Judith Lauand -
A Dama e o Concreto
Um dos mais importantes expoentes da produção artística brasileira da segunda metade do século XX, Judith Lauand fez da pintura sua vida.
Nascida no interior de São Paulo na década de 1920, forma-se na Escola de Belas Artes e, a partir daí, sua carreira avança e expande-se. Suas obras, a princípio figurativas e influenciadas pelo expressionismo, tornam-se abstratas e depois, concretas.
No começo da década de 1950, Judith Lauand mostra interesse crescente pela cor e suas pulsações óticas, culminando no Concretismo. Aliás, esta a expressão mais forte de sua trajetória artística, a ponto de torná-la reconhecida mundialmente como dama da arte concreta brasileira.
Esse processo começa em 1955, quando é convidada a compor o grupo de artistas paulistanos Ruptura e torna-se figura de destaque na fundação do Movimento Concreto, sendo, inclusive, a única mulher a integrar o grupo. Participa da icônica Exposição Nacional de Arte Concreta do MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1952.
O Movimento Concreto pretendia abolir da pintura qualquer conotação simbólica ou lírica. Os quadros deveriam conter apenas planos e cores. O mesmo caminho seguia a poesia concreta, parceira das artes visuais, tendo em Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos seus principais representantes.
Em entrevista concedida ao jornal da Associação Brasileira de Críticos de Arte, no ano de 2011, Judith Lauand disse: “Eu tinha consciência de que fazíamos algo novo, que não existia. Que estávamos construindo a base de um movimento novo”. A própria artista cita como suas referências: “Malevitch pelo pensamento matemático, Mondrian por suas estruturas, Paul Klee pelo lirismo, Modigliani pela ternura, Marcel Duchamp pela largueza de visão, com uma obra que não se repetia nunca. E Josef Albers porque tem na cor a sua principal expressividade...”.
Judith Lauand permanece por anos fiel a sua postura e trajetória concretistas. Sua obra nesta fase tende à perfeição na composição, no apuramento da cor e no equilíbrio gráfico, conseguidos por meio de constantes pesquisas. Exercita a ênfase na geometria com rigor, em linhas e formas espalhadas na tela de modo rígido, quase matemático.
A artista, embora na busca da razão geométrica, aos poucos, diferentemente dos outros membros do grupo Ruptura, vai subvertendo seus próprios trabalhos com “licenças poéticas”.
No fim de 1960 a artista retoma a figuração, agora mais livre e menos rígida. Incorpora a seus trabalhos elementos pop e ressalta a função
social da arte, evidenciando uma postura política e feminista, que reafirma seu papel de vanguarda.
No início da década de 1970, retoma a produção de trabalhos de essência abstrata geométrica, transitando entre esta e um abstracionismo mais
informal.
Sua obra nos anos seguintes envereda por outros caminhos, experimentando a assimetria. Nela, o lado geométrico da composição dá lugar a uma nova dissimetria, em que a artista quebra a rigidez e subverte o concreto, às vezes fazendo uso de formas arredondadas. Sua declaração “não precisa ser quadrado para ser concreto” soma ruptura à ruptura.
A trajetória singular de Judith Lauand
desenvolve-se com participações em cinco bienais de São Paulo e em várias exposições nacionais e internacionais.
Até hoje, com 92 anos, seu trabalho é mostrado com destaque no circuito internacional de artes, como a exposição recente na Stephen Friedman Gallery em Londres, ocorrida em 2013. As obras da artista
estão presentes nos museus mais importantes
do Brasil, além de museus internacionais,
como o Musée de Grenoble, na França, e
o Museum of Fine Arts, em Houston, EUA.
Nesta exposição promovida
pelo 44º Chapel Art Show, que contempla pinturas,
serigrafias e xilogravuras, as obras da artista mostram, com delicadeza e ousadia nas formas, as diferenças básicas entre a linha e o plano, sempre por meio de muita cor.
O trabalho de Judith Lauand possui sim abordagem
matemática e racional, mas com alma,
rigor e poesia, que captam nosso olhar e encanta-
nos. As palavras, claro, não substituem
a apreciação das obras. Aproveite!
Adriana Rede
Curadora
44º Chapel Art Show
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Sem título 1 |
Serigrafia |
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Sem título 2 |
Serigrafia |
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Sem título 3 grande |
Serigrafia |
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Sem título 4 |
Serigrafia |
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Sem título 5 |
Serigrafia |
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Sem título 6 |
Serigrafia |
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